A “Parábola do Semeador” nos apresenta alguns tipos de pessoas/cristãos:
"O semeador saiu a
semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho, e as
aves vieram e a comeram. Parte dela caiu em terreno pedregoso, onde não havia
muita terra; e logo brotou, porque a terra não era profunda. Mas quando saiu o
sol, as plantas se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram e
sufocaram as plantas. Outra ainda caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem,
sessenta e trinta por um. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!" Mateus
13:3-9
Na própria explicação da parábola, Jesus afirma que o solo é
o nosso coração (v. 19), ou seja, a Palavra de Deus pode ser recebida com o
coração em diferentes maneiras/situações/estados.
A primeira semente é a que “cai à beira do caminho”, aquela
que simboliza a palavra não compreendida:
Ouvindo alguém a palavra do
reino, e não a entendendo, vem o
maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado
ao pé do caminho. Mateus 13:19
Que entendimento é esse? Como assim: “não entendendo a
palavra do reino”?
Esse “não entender” é explicado nos versículos de 11 a 12:
Ele, respondendo, disse-lhes:
Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a
eles não lhes é dado; porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas
àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.Mateus 13:11-12
A palavra que cai à beira do caminho é a palavra revelada (que
alguns chamam de “rhema”), aquela acompanhada da revelação do Espírito Santo. O
pleno entendimento da visão de Reino, nosso chamado, nossa posição em Cristo,
nossa autoridade nesta terra, o poder que temos nEle. Esta é a única semente
que o diabo rapidamente vem comer. Por quê? Porque ele sabe do potencial do
cristão que tem esse entendimento, essa revelação, esse discernimento. Contudo,
se toda semente é lançada para dar frutos, porque essa é deixada “à beira do
caminho”?
Lucas, ao contar-nos essa parábola, escreve:
Um semeador saiu a semear a
sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Lc 3:5
Todos temos recebido a Palavra de Deus. E todos temos lançado a Palavra (ora
ensinando, ora evangelizando, ora ministrando...). Somos, ao mesmo tempo,
semeadores e solo. Muitas vezes, desprezamos a semente que temos recebido:
Porque o coração deste povo
está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus
olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam
com o coração, E se convertam, E eu os cure. Mateus
13:15
Às vezes, não gostamos do que ouvimos (uma exortação, talvez)
e, por isso, recebemos a palavra “de mau grado”, fechando nossos ouvidos e
consequentemente nossos corações para que ela cresça e dê frutos.
Na Linguagem Contemporânea, esse trecho foi escrito da
seguinte maneira:
“Esse povo é cabeça-dura!
Eles tapam os ouvidos com os dedos para não ter de escutar. Eles fecham os
olhos para não serem obrigados a ver, e, assim, evitam ficar comigo face a face
e me deixar curá-los.”
Reflexão: A semente que cai à beira do caminho (e que é pisada) é aquela
desprezada por quem está cuidando da terra. Como temos recebido as sementes que
temos ouvido? Temos dado valor à Palavra de Deus? Temos aceitado as palavras
proféticas? As palavras dos profetas? Temos nos permitido ficar face a face com
Ele? Queremos ficar face a face com Ele? Reconhecemos que temos problemas?
Queremos ser curados? Queremos escutá-lO?
Quanto mais nos permitimos esse “face a face” com Ele, maior
entendimento temos dEle, da visão e “mistérios” do Reino, maior revelação Ele
nos dá. Da mesma forma, quanto menos nos permitirmos ficar face a face com Ele,
sendo confrontados e moldados por Sua Palavra, tendo-a como espelho, menos
entendimento, revelação e discernimento teremos:
Ele, respondendo,
disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a
eles não lhes é dado; porque àquele que
tem [o entendimento dos mistérios do Reino], se dará, e terá em abundância; mas
àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Mateus 13:11-12
Nosso coração torna-se endurecido e deixamos de dar frutos.
A segunda maneira como a palavra pode ser recebida está no v. 5:
E outra parte caiu em
terreno pedregoso, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não
tinha terra funda; mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha
raiz. Mateus 13:5-6
A semente não resistiu não porque havia pedras, mas porque havia falta
de terra. Esse é o crente sem vida com Deus, sem conhecimento da Palavra, sem
base, sem fundamentos. É da terra que a raiz absorve toda a água e os
nutrientes necessários para a planta. Quando
as pedras “dominam” o terreno, não é possível um andar seguro, confiante.
Assim, esse é o cristão que vive uma vida de insegurança e tropeços, que vive
pecando. O cristão que, sem tempo com a Palavra e de intimidade com Deus, não
tem sua fé avivada, não tem em que apoiar sua fé, não tem o que pode trazer à
memória para dar-lhe esperança. Não tem de onde tirar “água e nutrientes” para
viver. Falta-lhe experiências com Deus, experiências que o permitam reconhecer
e ver o agir e o poder do Pai em sua vida, viver como filho de Deus. Falta-lhe
a comunhão com o Espírito Santo, aquele que consola, que ensina todas as
coisas, que nos traz à memória tudo o que vimos e ouvimos dEle: “Mas aquele Consolador, o
Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as
coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” João 14:26
A semente logo nasce, mas seca-se, ou seja, esse tipo de pessoa tem uma alegria
momentânea, passageira, rápida. Logo após o entusiasmo (geralmente motivado
pela pregação fervorosa de alguém), torna-se desanimado, desmotivado e
frustrado. Tem várias ideias, projetos e sonhos. Quando os começa, não os
termina. Tem uma vida rasa com Deus, não sabe defender sua fé, não tem em que
apoiá-la. E, por isso, é muito suscetível a sentimentos de dúvidas, a ter uma
fé seguida do “será?”. Ou seja, não tem uma fé genuína.
“(...) aquele que duvida é semelhante à
onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que
receberá do Senhor alguma coisa, homem vacilante que é, e inconstante em todos
os seus caminhos.” Tg 1:6-8
Quando porém vier o Filho do
homem, porventura achará fé na terra? Lucas
18:8
É preciso gastar tempo com a Palavra de Deus, meditar nela, estudá-la,
lê-la por completo, expor-se a ela. Deixar Deus operar em nosso coração e
caráter, ter tempo de comunhão com Ele, buscá-lO, ouvi-lO. Precisamos nascer de
novo:
Sendo de novo gerados, não
de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que
permanece para sempre. 1 Pedro
1:23
Jesus deixou-nos
uma promessa tremenda:
Na verdade, na verdade vos
digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará
maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. João 14:12
Reflexão: Quanta “terra” há em nossos corações?
Nossa fé tem fundamento ou somos bastante suscetíveis a dúvidas? Será que há
alguma relação entre isso e a atual falta do “fazer as obras que Ele fez”?
A terceira forma de receber a palavra está nos versículos 7 e 22:
“Outra parte caiu entre espinhos, que
cresceram e sufocaram as plantas. (...) E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a
palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra,
e fica infrutífera.”
Sem estar em lugar adequado, não há como uma semente
florescer. Se não há espaço (tempo, estudo, meditação etc.) para a Palavra,
como ela produzirá frutos?
Há espinhos e há plantas, ou seja, reino dividido. Este é o
cristão que está dividido, sobre o muro. Tem as coisas desta terra tão
arraigadas em seu coração, está tão envolvido com elas, que não dá espaço para
a Palavra de Deus crescer e frutificar. É o cristão que ainda precisa decidir a
quem quer servir, que ainda não se posicionou como verdadeiro seguidor de
Cristo. Ele precisa tirar do coração tudo aquilo que fere/ atrapalha seu
relacionamento com Deus.
Os espinhos também simbolizam coisas que causam tormento e
dor:
No caminho do perverso há
espinhos e armadilhas; quem quer proteger a própria vida mantém-se longe dele. Provérbios 22:5
E você, filho do homem, não tenha medo dessa
gente nem das suas palavras. Não tenha medo, ainda que o cerquem espinheiros, e
você viva entre escorpiões. Não tenha medo do que disserem, nem fique apavorado
ao vê-los, embora sejam uma nação rebelde. Ez 2:6
Logo, o terreno cheio de espinhos também simboliza a pessoa
com o coração doente, machucado, ferido, atormentado, que necessita
urgentemente de limpeza, tratamento, cura, perdão e restauração.
Em ambos os casos, se não houver um posicionamento e real
conversão, não veremos frutos:
Pois a terra que absorve a
chuva, que cai freqüentemente e dá colheita proveitosa àqueles que a cultivam,
recebe a bênção de Deus. Mas a terra que
produz espinhos e ervas daninhas, é inútil e logo será amaldiçoada. Seu fim é
ser queimada. Hebreus 6:7-8
É preciso
“lavrar” a terra:
Assim diz o Senhor ao povo de Judá e de
Jerusalém: "Lavrem seus campos não
arados e não semeiem entre espinhos.” Jeremias
4:3
Reflexão: A quem realmente temos servido: a Deus ou ao diabo? A quem realmente
temos dado ouvidos: à voz de Deus ou à do mundo? Temos buscamos mais a quem?
Realmente queremos seguir a Cristo?
Por fim, temos a semente que “caiu em boa
terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um”,
representando aqueles que “ouvindo a palavra, a conservam num coração reto e
bom, e dão fruto com perseverança” (Lc 8:15). Para
sermos essa terra, precisamos:
· 1. Antes de tudo, ter terra suficiente, ou
seja, desejar nascer de novo, ser uma nova criatura, e pagar o preço por isso,
dedicando tempo em conhecer ao Senhor: “Se alguém está
em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo. (II Co 5:17)” e
“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR;
a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva
serôdia que rega a terra” (Oséias 6:3).
§ 2. Lavrá-la, a fim de tirar os espinhos, pecados e tudo aquilo que possa atrapalhar o
desenvolvimento e a frutificação da semente em nós (Os 6:3) e suprindo toda sua necessidade de água e os nutrientes necessários, a fim de que cresça forte e
saudável. Ou seja, investir tempo no relacionamento com Deus, no conhecimento
de Cristo (a Palavra), na comunhão com o Espírito Santo.
§ 3. Receber a Palavra de bom grado, permitindo-se enxergar nela, ser
confrontado e moldado por ela. Deixando-a trabalhar em nosso coração, caráter e
personalidade: Porque a palavra de Deus é viva e
eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à
divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir
os pensamentos e intenções do coração. Hebreus
4:12
§ 4. Conservá-la em um coração reto e bom,
desejoso de observar e cumprir a Palavra, voltado às coisas do Senhor: Pelo que, despojando-vos de toda sorte de
imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós
implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas. E sede cumpridores
da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Tiago 1:21-22
§ 5. Sendo perseverantes, devido a nossas
experiências com Ele, a uma vida com Cristo: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na
qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não
somente isto, mas também nos gloriamos
nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a
experiência, e a experiência a esperança [perseverança]. E a esperança não
traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado. Romanos
5:1-5
Reflexão: Como está o nosso coração? Preparado para receber a “boa semente” ou
precisando de reparos? Jesus termina a parábola dizendo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (Mateus 13:9).
Semeai para vós em justiça, colhei
segundo a misericórdia; lavrai o campo alqueivado; porque é tempo de buscar ao
Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós. Oséias 10:12
(Palavra ministrada na Y! Leadership Conference, 23/06/2012)