quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A liquidez das tragédias


Procuro notícias de Brumadinho. Difícil achar qualquer novidade. Só atualizam o número de mortos. Os “novos” vídeos e depoimentos, como em círculo vicioso, já foram e serão reproduzidos e compartilhados centenas e centenas de vezes. Como não se abalar com uma cena dessas?!? E aquele carro, meu Deus? E aquele maquinista??? Não há para onde fugir, e o desespero é em vão. Como não evitaram tudo isso?!? E, mesmo em meio a momentos dramáticos, há aqueles que querem vender seu produto: “Você poderá pular esse anúncio em 30 segundos”. Um insulto, uma vergonha, um desrespeito.

As notícias que antes, com grandes manchetes, ocupavam as primeiras páginas, agora precisam ser caçadas em pequenos links apresentados junto a outras tantas chamadas. O “Big Brother” real é trágico, cruel e impiedoso. Difícil assistir às cenas. “Não tenho estômago para isso... Quem está mesmo disputando o paredão?”, “Elegeram esse homem de novo?!? Agora danou-se! Estamos perdidos...”. Será conveniente chamar isso de tragédia política? Ou seria uma tragédia moral?

Tragédias familiares, ambientais, políticas... pouco a pouco, mudam-se os protagonistas. Também aos poucos, os barulhos dos helicópteros e os gritos mudos de justiça e revolta são substituídos pelos pandeiros e surdos das baterias. O que não é “líquido” hoje em dia? O povo brasileiro é um povo festivo, que não se deixa abater com qualquer desgraça. E os que se foram? Entram para as estatísticas. Ficam nas lembranças, na história e, por um tempo, na memória. Sepultados na terra, escondidos na lama.

Quantos morreram? O país morre pouco a pouco pela ganância de homens de todas as áreas, em todas as áreas.

Começam os ensaios para o desfile de março! É carnaval!

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