sábado, 9 de junho de 2012

A criação de Samuel


Elcana:

De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exércitos em Siló. (...) No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar quinhões a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas; porém a Ana, embora a amasse, dava um só quinhão, porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre. (...) Então Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e porque não comes? e por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor de que dez filhos?” 
(I Samuel 1:3-8)

Elcana (hb) = possessão de Deus

“Três vezes no ano me celebrarás festa: A festa dos pães ázimos guardarás: sete dias comerás pães ázimos como te ordenei, (...) também guardarás a festa da sega, a das primícias do teu trabalho, (...) igualmente guardarás a festa da colheita à saída do ano, quando tiveres colhido do campo os frutos do teu trabalho” (Êxodo 23:14-16).

“A festa dos pães ázimos/asmos oocrria em março-abril. A festa da sega, também conhecida como Pentecostes (...) era celebrada no final de maio.Era chamada ainda de “Festa das Semanas”. A festa da colheita, também conhecida como “Tabernáculos”, celebrava a colheita das azeitonas e uvas no outono.” (Hagnos, p.102)

Elcana era temente e obediente a Deus. Amava Ana e tentava ajudá-la a superar a falta de filhos, conviver com essa falta. Conforme Números 30:1-8, podia anular o voto de Ana, mas não o fez.

“Subiu, pois aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto. Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então e levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre. E Elcana, seu marido, lhe disse: faze o que bem te parecer; fica até que o desmames; tão-somente confirme o Senhor a sua palavra.” (I Sm 1:21-23a)

Ana:

“E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem à casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e não comia. Então Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e porque não comes? e por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor de que dez filhos? Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor. Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito, e fez um voto, dizendo: ó Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passará navalha. Continuando ela a orar perante e Senhor, Eli observou a sua boca; porquanto Ana falava no seu coração; só se moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada, e lhe disse: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. Mas Ana respondeu: Não, Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte, porém derramei a minha alma perante o Senhor. Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora. Então lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste. Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não era triste o seu semblante” 
(I Sm 1:7-18).

A maior prova de que Ana era uma mulher de Deus estava em suas atitudes. Em momento algum ela retrucou com Penina ou exigiu que Elcana a dispensasse (como fez Sara, em Gn 21:10). Também nada disse ao marido quando este lhe perguntou se não era melhor que dez filhos. Tampouco irou-se com o sacerdote Eli, quando este a teve por embriagada. Antes, vendo-o como representante de Deus, alegrou-se com suas palavras: “Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.” (I Sm 1:17) e tomou posse delas.

Haveria motivos para Ana não cumprir seu voto? Além dos sentimentos de mãe, no início do capítulo, ficamos sabendo que Hofni e Finéias assistiam também como sacerdotes (I Sm 1:3). Eles são citados novamente logo após o cântico de Ana, quando ela entregou Samuel aos cuidados de Eli:

“Ora, os filhos de Eli eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor. Porquanto o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, e estando-se a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo de três dentes, e o metia na panela, ou no tacho, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em Siló. Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar a oferta do Senhor (I Sm 2:12-14,17).

Como eles agiam assim com todos, era óbvio que Elcana e Ana sabiam de suas atitudes e pecados. E como deixar um filho aos cuidados de alguém cujos filhos davam esse testemunho? Samuel não seria influenciado por eles?
Ana era uma mulher de oração e confiava no Senhor. Fora a Ele que o entregara e não ao sacerdote:
“Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor” (I Sm 1:28).
Ela colocou uma palavra poderosa sobre a criança: “por todos os dias que viver, aO Senhor está entregue” e certamente orava e intercedia pelo filho. Ano após ano, visitava-o, levando sempre uma túnica que ela mesma fazia:

“Samuel, porém, ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de um éfode de linho. E sua mãe lhe fazia de ano em ano uma túnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para oferecer o sacrifício anual” ( I Sm 2:18-19).

A éfode que Samuel usava era a estola sacerdotal usada pelos sacerdotes, na forma de um avental (Hagnos, p. 320). A túnica feita por Ana simboliza sua cobertura sobre ele, confirmada ano após ano. Um lembrete de quem ele era no Senhor e que não fora esquecido; pelo contrário, era amado e tinha a bênção dos pais sobre o seu chamado. Com essa “cobertura”, Samuel “ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens” (I Sm 2:26) a despeito dos filhos de Eli.


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